As eleições de 2024 no Brasil trazem à tona uma realidade que muitos tentam silenciar: a resistência e a força das candidaturas LGBT+. Com a oficialização de 3.037 candidatos LGBT+, estas eleições são um marco de visibilidade e enfrentamento ao conservadorismo que ainda domina a política nacional. A oficialização pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é uma conquista histórica, sobretudo em um país onde o próprio Estado, através de órgãos como o IBGE, insiste em apagar a existência da população LGBT+ dos registros oficiais. Esta contabilidade não é apenas um dado, mas uma ferramenta de luta contra o apagamento sistemático de corpos e identidades marginalizadas.
O que chama atenção, porém, é a distribuição dessas candidaturas: quase metade (48,7%) está filiada a partidos de centro e direita – setores que historicamente são inimigos da causa LGBT+. Esse fenômeno expõe a contradição de uma política que, em vez de ser um espaço de emancipação, reflete a necessidade de sobrevivência. Lideranças LGBT+ em municípios pequenos se veem obrigadas a se aliar a partidos conservadores não por convicção ideológica, mas pela falta de opção viável em suas realidades locais. Esse não é um alinhamento, mas uma estratégia de resistência dentro de um sistema que busca silenciá-las.
Mesmo nos partidos de esquerda, onde se concentra a maioria das candidaturas LGBT+, a luta interna é árdua. Sabotagens são comuns, com lideranças locais cis-heteronormativas, brancas e elitistas controlando recursos de campanha e sufocando qualquer tentativa de diversidade real. Não basta ter o apoio teórico de partidos que se dizem progressistas, é preciso garantir que as candidaturas LGBT+ recebam o suporte necessário para competir em pé de igualdade. A prática dentro das campanhas muitas vezes não corresponde ao discurso, o que exige uma constante vigilância e pressão por parte da militância.
Figuras como Titia Chiba em Pompeu-MG, que está em busca de reeleição, e Rafael Freire em Alpinópolis-MG, prefeito combativo que se destaca pela sua gestão progressista, são exemplos de que, mesmo em meio a um sistema opressor, é possível furar o bloqueio. Novas lideranças também emergem, como Tathiane Araújo, secretária nacional LGBT do PSB, que disputa uma cadeira na Câmara de Sergipe, e William Callegaro, que concorre em São Paulo. No Rio Grande do Sul, o vereador Lalá busca a reeleição, enquanto em Uberlândia, Gilvan Masfer também tenta garantir mais um mandato, ao lado da vereadora Amanda Gondim, outra voz importante da comunidade LGBT+. Essas candidaturas representam a diversidade de atuação em diferentes partes do Brasil e provam que nossa luta é nacional.
Não podemos deixar de mencionar a hipocrisia da direita, que, enquanto ataca ferozmente a comunidade LGBT+ em seus discursos, vê suas fileiras inchadas por candidaturas LGBT+. É o caso de partidos como o MDB e PP, que têm presença em praticamente todos os municípios do país. O que isso revela? Que a política é, antes de tudo, um jogo de conveniência, onde a vida
e a dignidade das pessoas LGBT+ são negociadas conforme os interesses locais e o poder de cada partido.
Ainda assim, o avanço dessas candidaturas é uma vitória do movimento LGBT+ e da esquerda que luta diariamente pela libertação de todas as formas de opressão. A presença de mais de 3 mil candidatos LGBT+ nas eleições de 2024 é a prova de que não vamos recuar. Pelo contrário, estamos mais organizados e determinados do que nunca. A criação de políticas públicas que garantam a segurança e os direitos dessas lideranças se torna urgente. Mas isso só será possível se as forças progressistas se unirem para combater não apenas a direita, mas também os privilégios enraizados dentro dos próprios partidos de esquerda.
Por fim, é impossível ignorar a importância de movimentos como o VoteLGBT, que há uma década está na linha de frente, abrindo caminhos para que essas candidaturas existam. Sem essa articulação, muitas lideranças jamais teriam chegado a disputar o espaço de poder. Esta eleição é um passo importante na longa marcha por igualdade e representatividade, mas sabemos que ainda há muito a ser feito.
No PSB, seguimos comprometidos em garantir não apenas a presença, mas o fortalecimento de candidaturas LGBT+ em todas as esferas. A militância e a coragem de figuras como a nossa Secretária Nacional Tathiane Araújo, que nunca hesitou em lutar pelos direitos da nossa população, mostra que o combate continua e que cada espaço conquistado é uma vitória coletiva.