Se vai mais uma de nós nesta sexta-feira, Roberta da Silva, 32 anos a mulher trans moradora de rua que teve 40% do corpo queimado por um adolescente, no Centro do Recife, enquanto dormia perto do Terminal de Ônibus do Cais de Santa Rita, em 24 de junho, e hoje às 9h, não resistiu e veio a óbito com falência respiratória e renal. O quadro de saúde dela se agravou nas últimas horas. A equipe médica da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) realizou hemodiálise, mas a paciente não reagiu.
O que faz um adolescente jogar álcool e atear fogo nela. Ele foi apreendido em flagrante pelo crime, e não pode ser o único a ter culpabilidade por este crime?
A sociedade indiretamente possui um extinto natural de extermínio da população de travestis e transexuais pois seu conhecimento sobre nossas vivencias e o aprendizado machista promovem a transfobia culminando na exclusão, apagamento e violência a práticas e experiências fora da norma cisnormativa.
Nos assassinatos a nossa comunidade é visível os ensinamentos sociais promovem a cultura de desprezo a nossos corpos e vidas, observem no caso Dandara, um dos elementos que tornou a situação mais alarmante foi que, além das agressões físicas, o ato contou com inúmeros insultos verbais, que remetiam especificamente à sua existência enquanto travesti e, em meio ao contexto, demonstraram como o ato foi motivado pelo próprio discurso de ódio, comprovando a face ideológica e discursiva da transfobia, o que podemos enxergar de igual no caso da nossa irmã Roberta de Recife.
O discurso cisnormativo que insiste em categorizar a transmasculinidade e transfeminilidade como algo patológico ou pecaminoso tem reflexo direto nos nossos assassinatos, somente em 2019 a transexualidade deixou de ser apontada como um transtorno psiquiátrico pela Organização Mundial da Saúde (OMS), uma reivindicação de anos de pessoas travestis e transexuais, já que considerar as vivências de gênero trans enquanto transtorno ou patologia psiquiátrica, além de desumanizar nossos corpos, traz implicações práticas de violações de direitos em suas vidas, como direito à autonomia corpo, já no campo da religião o atraso vai ainda mais distante pois e deste campo que são oriundos os parlamentares da bancada conservadora.
A reiteração da cisheteronormatividade e da transfobia por meio da exclusão social é a raiz do processo de vulnerabilidade, fragilização ou precariedade dos vínculos sociais nos pessoas trans somos condenadas na adolescência a viver a margem do resto da sociedade que foge e é orientada pelo resto da nação a não discutir nossas vidas na educação, o que resulta na fragilização dos laços sociais e impede que haja a participação parcial ou integral na sociedade, o que mais pra frente ocasiona ou nossa morte social invisível aos meios de comunicação ou mortes físicas e bárbaras de modo a culminar no assassinato de Robertas ,Theos, Dandaras,…..
Adeus mais uma vida de uma mulher nordestina e trans vítima deste sistema social que envergonha nossa nação para o resto do mundo.
Tathiane Araújo
Secretaria Nacional do Segmento LGBT Socialista